Titular da Cadeira nº 8 da Academia Saltense de Letras, ela contou aos acadêmicos, no Momento Literário, sábado (4), a história do pai
“Meu pai foi o deficiente mais eficiente que conheci. Ele não andava. Ele voava. E me puxava com ele para voar também”, assim a escritora Toni Tordivelli, Cadeira nº 8 da Academia Saltense de Letras, patrono Gonçalves Dias, definiu o pai, Vicente Leite de Senna, que foi o tema da sua palestra no “Momento Literário” da primeira reunião ordinária do ano dos acadêmicos, sábado (4), na Biblioteca de Salto.
Toni Tordivelli se emocionou ao lembrar do esforço do pai para que ela conseguisse tudo na vida. Vítima da poliomielite, ele tinha dificuldade motora no braço e na perna, mas não se abalava com isso.
Dizia que fora um vento que teria entrado por uma fresta de janela e o deixara com gripe. Depois a gripe não sarara direito e teria causado a dificuldade. “Tudo na vida depende da vontade de ser feliz. Ele me ensinou isso”, diz ela.
A conversa com a escritora era para falar dos seus livros “Bom Dia, Faces”, série de crônicas do cotidiano que já está no terceiro volume, mas ela escolheu falar de superação para contar a história do pai e homenageá-lo, pois, sempre enalteceu nas suas crônicas a mãe, Dona Mariquinha, contando as aventuras dela, uma mulher que não seria uma peça, mas o teatro todo, como brinca parafraseando Paulo Gustavo.
Única e adorada
Vicente Leite de Senna casou-se com Dona Mariquinha depois do primeiro casamento dela e teve apenas a escritora como filha. Embora tenha se tornado pai dos filhos do primeiro casamento da mulher, o pai de Toni Tordivelli a venerava e a enaltecia como se ela fosse a única, uma verdadeira heroína dos romances de então, como ela definiu na sua fala, o que significou receber mimos e todos os esforços dele.
O pai da escritora vendia bilhetes de loteria, mas nem sempre vendia todos os bilhetes. Só que nunca ficou com um premiado. “Ele dizia que vendia a sorte aos outros. Depois dizia que eu era o bilhete premiado dele. Quando ia visitá-lo depois de casada, ele dizia: Sabia que você viria. Como sabia, eu perguntava e ele explicava que tinha visto uma atriz na tevê. Aí eu perguntava: Pai, que atriz é essa? Ele dizia: Elizabeth Taylor”.
A escritora lembra que ria muito dessa comparação. “Meu pai me adorava”. Mas ela reforça que nunca quis receber as coisas de mão beijada. “Não quero ser espectadora na vida. Quero participar. Meu pai entendeu isso e me puxava com ele para crescer. Eu dizia para ele que queria viajar, conhecer o mundo. Ele dizia que não tinha dinheiro para isso, mas que um dia eu iria realizar o meu sonho. Ele me ensinou que, além de foco, tudo tem superação e recomeço”.
Saída pela educação
Para ela, essas lições estavam nele. “Minha origem é pobre. Vivia com meus pais em Bauru, onde nasci. Um dia o prefeito, seu Nicolinha, ofereceu uma bolsa de estudos no Colégio São José e meu pai ficou na fila de madrugada para me inscrever. Graças ao esforço dele, eu fui uma das três que ganharam a bolsa. Estudei letras e inglês lá e me tornei a professora de uma geração inteira, porque em Tanabi, onde fui morar depois de casada, tinha só três escolas”.
A escritora se recorda que seu pai sempre dizia que só se muda uma vida pela educação e afirma que foi por meio dela que sua vida mudou. Da menina pobre que não tinha muita esperança, ela já viajou o mundo, conheceu países em todos os continentes e afirma ter realizado tudo o que sonhou. “Estudei, falo inglês, morei fora, me casei com um antigo namorado de 62 anos atrás. Tenho filhos, netos, bisnetos. Sou feliz”.
Se a mãe, Dona Mariquinha, inspirou crônicas que se tornaram a série de três livros intitulada “Bom Dia, Faces”, com o relato sobre a história do pai, ela demonstrou que é possível produzir mais livros contando o outro lado. Toda a trajetória de vida de Vicente Leite de Senna, vivida entre Bauru e Tanabi, esta última onde ele e a mulher Maria Sampaio, a Dona Mariquinha, morreram, dá outros três volumes.
Nova série
Foram essas as impressões deixadas por Toni Tordivelli aos acadêmicos. A presidente da Academia, Anita Liberalesso Nery, Cadeira nº 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel, destacou a importância do relato dela para os acadêmicos. “Sua história nos inspira”. O presidente emérito da Academia, Antônio Oirmes Ferrari, Cadeira nº 7, patrono Machado de Assis, ficou admirado ao ver que Toni não se intimidou ao falar da pobreza.
Rose Ferrari, Cadeira nº 38, patrono Mário Quintana, falou do envolvimento da escritora com a rede social aos 78 anos. “Toni consegue transformar um público de rede social em seu seguidor para falar de literatura. Isso é muito importante”. O acadêmico Francisco Moschini, Cadeira nº 23, patrono Euclides da Cunha, destacou a clareza de ideias da escritora e o seu foco para crescer e se desenvolver.
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