
Atenção: amiga Mércia Falcini faz análise contundente da Série de sucesso na Netflix: Adolescência
Mércia Falcini (*)
Depois de assistir à série Adolescência, da Netflix, que narra a história de Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado de matar sua colega de classe, Katie Leonard, fui tomada por uma inquietação que não me deixou em paz.
Era mais do que o choque do enredo — era o desconforto de reconhecer, naquela história, sintomas visíveis do mundo em que vivemos.
Ao longo de quatro episódios intensos, filmados em plano-sequência, a série mergulha em temas dolorosamente atuais: bullying, solidão, masculinidade tóxica, radicalização digital.
Mas a pergunta que ecoava em mim era: por que chegamos a isso?
O que leva um adolescente a se tornar tão hostil ao outro — e tão devastado por dentro?
Buscando entender esse mal-estar contemporâneo, encontrei um fio de compreensão na obra Sociedade do Cansaço, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han.

A leitura, breve em páginas, mas densa em impacto, me ajudou a traduzir o incômodo.
Han nos mostra uma sociedade movida pelo desempenho, pela hiperprodutividade, pela ilusão da liberdade como escolha constante.
E alerta: esse sistema não nos deixa espaço para falhar, descansar ou simplesmente ser.
Estamos todos exaustos — e os adolescentes, talvez, ainda mais.
Eles crescem sob o peso da perfeição: pressionados a ir bem na escola, a se destacar nas redes, a parecer felizes o tempo todo.
Vivem entre a ansiedade de corresponder e o medo de decepcionar. Quando não conseguem, o esgotamento se instala.
E, em alguns casos, como o de Jamie, essa exaustão encontra terreno fértil na internet, onde comunidades tóxicas oferecem pertencimento e canalizam a dor para o ódio.
A série, ao narrar uma tragédia, escancara um fenômeno: uma juventude fragilizada, sem escuta, que busca sentido em meio ao barulho ensurdecedor das expectativas.
Jamie foi rejeitado, sofreu bullying, e acabou influenciado por ideologias misóginas da “manosphere”, grupos que romantizam o ressentimento e desprezam a empatia.
O resultado foi um ato brutal — e, mais do que isso, um retrato sombrio da solidão coletiva.
A correlação entre a série e Sociedade do Cansaço é nítida. O filósofo descreve um tempo em que as violências não são apenas externas, mas internalizadas.
Uma era em que o sofrimento deixa de ser visível porque é vivido em silêncio — até que explode.
Por isso, a série é mais do que ficção. É alerta. É espelho.
E a obra de Han é mais do que teoria: é convite à pausa, ao olhar atento, à construção de espaços que acolham a vulnerabilidade em vez de puni-la.
Talvez, se escutássemos mais nossos jovens — suas dores, suas dúvidas, suas angústias — não precisaríamos que o sofrimento virasse manchete”.
Então, veja agora o trailler da série perturbadora da Netflix
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