Mercia Falcini nos brinda com mais um artigo: Quem está falando?

Mercia debate caso da jovem norteamericana que pediu indenização de professor que usou IA na escola
Mercia debate caso da jovem norteamericana que pediu indenização de professor que usou IA na escola (fotos desta matéria: reprodução internet)

Ontem recebi uma notícia* da minha irmã, como provocação para que eu escrevesse sobre o tema.
Conversávamos pelo WhatsApp, e a notícia, que circulou nas mídias, polemiza ainda mais uma questão já bem incômoda.
Uma estudante norte-americana pediu o reembolso da mensalidade universitária ao descobrir que seu professor usava Inteligência Artificial para preparar as aulas.
Alegou sentir-se enganada. Citou erros típicos de máquina, imagens distorcidas e, veja só, a citação de “ChatGPT” na bibliografia (será que já temos essa possibilidade na ABNT?).
O professor admitiu. A universidade rejeitou o pedido, mas o desconforto ficou.
Coincidentemente, hoje, ainda processando a provocação da minha irmã, entrei nas redes e fui surpreendida por uma avalanche de postagens pelo Dia do Pedagogo.
Bonitas, sensíveis, cheias de reconhecimento… mas todas, ou quase todas, com a mesma estrutura, as mesmas palavras, os mesmos adjetivos. Pareciam clones.
Não demorou para perceber que boa parte delas era fruto da IA.
Sim, talvez até bem-intencionadas, mas faltava algo: a voz de quem vive, sente e pensa com o corpo inteiro esse ofício de ser pedagogo.
Por isso, e com voz e coração de Pedagoga, resolvi trazer o assunto à pauta.
Mas antes, preciso dizer que demorei a usar a IA. Estava resistente — aliás, penso que, na fase da vida em que me encontro, tenho esse direito: não aderir a tudo de pronto, no impulso, na moda… Resisti até onde pude.
Porém, hoje a tenho como uma ferramenta, assim como aprendi a usar o rádio, a televisão, o telefone, o computador, a internet…
De fato, venho aprendendo a usá-la com cuidado e ética. E pensando muito a respeito.
Venho pensando que é sempre assim: toda nova tecnologia nos põe diante da mesma pergunta antiga — como usar? Até onde ir?
Quando a máquina escreve por nós, o que ainda é nosso? Quando a inteligência é artificial, onde fica a autoria, a intenção, o traço humano que vacila, mas também vibra? Seremos substituídos?
Não sou contra a tecnologia.
Ao contrário — aliás, já fui muito mais tecnológica um dia.
Hoje tenho um pouco de preguiça; e para algumas, simplesmente digo não. Mas recuso o uso irresponsável, que impede o aprendizado, que oferece atalhos.
Especialmente na educação, onde a presença, a escuta, a interação e a singularidade ainda são o que nos salvam do automatismo. Há diferença entre usar uma ferramenta e delegar a ela o que é intransferivelmente nosso. E o aprendizado é, fundamentalmente, relacional.
Por isso, neste 20 de maio, data reconhecida como o Dia do Pedagogo, questiono: que vozes estamos reproduzindo? Que silêncios estamos deixando passar? No fundo, a pergunta é simples, mas necessária: quem está falando? E o que ainda somos capazes de dizer com nossa própria voz?

(*) Veja mais em https://www.tabnews.com.br/NewsletterOficial/estudante-universitaria-exige-reembolso-apos-professor-utilizar-ia
(acesso em 20 de maio de 2025)

Agora reveja um outro artigo que ela gentilmente nos brinda: Vale a leitura

 

 

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