“Quero Justiça: minha mãe agonizou 48 horas antes de morrer e o hospital de Salto não viu”, diz Camila

filha quer investigação para apurar morte da mãe atendida em Salto duas vezes
Filha quer investigação para apurar morte da mãe atendida em Salto duas vezes

A jovem Camila DiCaprio, de 31 anos, relatou para nossa equipe, o drama que viveu entre os dias 5 a 7 de maio, ao lado de sua mãe, Angela, de 70 anos

Um caso que vem sendo investigado junto à saúde pública e a delegacia para que mais pessoas sejam poupadas da tristeza e revolta que a jovem enfrenta.

“Tem sido uma luta sobreviver à sua ausência diante do que aconteceu”, comenta Camila.

Ela abriu um boletim de ocorrência na delegacia em 3 de junho, pedindo uma investigação sobre o atendimento que a mãe recebeu do Hospital Municipal Nossa Senhora do Monte Serrat, ao longo de duas noites, antes de falecer.

A investigação visa comprovar se houve ou não, negligência no atendimento prestado pelo hospital, levando ao óbito horas depois.

Na noite de segunda-feira, 5 de maio, Camila levou a mãe ao hospital pois a mesma apresentava confusão mental, febre, pressão alta e disfunções miccionais.

Onde foi com a esperança de ajudar a mãe, a filha não sabia que ali começaria o drama e o sofrimento que a levaria à morte da sua mãe, dois dias depois.

“Chegamos ao hospital com minha mãe bem mal e a enfermeira a avaliou e nos deu a pulseira verde, de atendimento pouco urgente. Mesmo depois de informar que minha mãe tinha problema de coração e já havia sofrido um AVC, ela insistiu que esperássemos, sugerindo que nosso caso não era emergencial”, conta Camila que aguardou por mais de uma hora até ser atendida pelo médico de plantão.

A pedido do médico, foram realizados exames de sangue, urina, raio-x e eletrocardiograma.

Após mais de 4 horas de espera, a mãe teve alta com o médico atestando estar tudo bem.

Esperançosas, foram embora e às 4h da madrugada, porém, ao chegar em casa, a mãe disse continuar mal, mas, diante o diagnóstico recebido no hospital, ambas pensaram que seria algo passageiro.

Mas foi na noite dessa mesma terça-feira que o pesadelo se agravou.

Ao chegar em casa, Camila presenciou uma cena que dificilmente será esquecida: sua mãe – que havia passado à tarde aos cuidados de uma conhecida da família – estava em choque e desorientada e havia sofrido de intenso desarranjo intestinal causando forte desidratação.

“Ela estava amarela, mais pálida, mais ofegante e muito suja. Chamei o 192 e dei um banho nela e 20 minutos depois estávamos indo de ambulância ao hospital”, relata a filha.

Esperança? Não! Mais um novo drama.

A jovem relata que a mãe entrou pela emergência enquanto ela fazia a ficha na recepção.

Minutos depois levaram Angela de cadeira de rodas para o ambulatório porque o médico da emergência entendeu que não era urgente.

Isso era dia 6, às 20h10. Novamente a mãe foi avaliada na triagem, novamente ela falou do quadro que estava se agravando e novamente o setor deu para ela uma pulseira verde pois, segundo a avaliação da enfermeira, o quadro da idosa não era urgente, mesmo depois da filha insistir em um atendimento emergencial.

E lá se foram mais uma hora e meia de espera.

No consultório a filha relatou o que houve. O médico disse que era normal, porque a idosa estaria desidratada.

Em seguida novos exames foram realizados e, após – mais uma vez – 4 horas de espera em uma cadeira de rodas, tomando apenas um litro de soro, Angela teve alta com o médico alegando estar tudo bem e que, provavelmente, o que ela teve foi uma intoxicação gastro-intestinal, uma infecção leve oriunda de ter comido algo que não havia lhe feito bem.

“Minha mãe gemia o tempo todo e apresentava dificuldade na fala e para respirar. E mesmo com o exame do dia anterior em mãos, o médico, aparentemente, não levou em consideração a diferença entre os resultados dos exames”, relata Camila que, inclusive pediu para o médico realizar outros tipos de exames por suspeitar de um AVC, mas o médico explicou que tais exames não poderiam ser realizados sem deixar claro os motivos.

Na tarde de quarta-feira, dia 7, após persistirem os sintomas, Angela foi levada outra vez ao hospital, porém na cidade de Indaiatuba, no Hospital Augusto de Oliveira Camargo (HAOC).

Ao chegar no hospital, Angela foi imeditamente direcionada para o atendimento emergencial e lá recebeu todos os cuidados necessários diante da baixa pressão arterial, hipoglicemia e baixa oxigenação que apresentava ao chegar.

Sem reagir aos primeiros socorros prestados, o médico de plantão informou que a mãe seria levada à ala de emergência e que seria entubada pois o quadro, segundo a equipe do hospital de Indaiatuba, era muito grave.

Seriam as últimas horas de vida da senhora Angela. “A diferença de atendimento recebido no HAOC foi gritante. É revoltante constatar que minha joia rara pôde ter sido negligenciada na nossa cidade”, relata a filha emocionada.

Após pouco mais de uma hora na UTI, a equipe chamou a família para conversar e comunicou que a mãe havia tido uma parada cardio-respiratória mas que, após os procedimentos realizados, ela havia recobrado os sinais vitais, porém, o quadro era crítico demais.

“Nesse momento, fiquei sem chão e com medo. Orei por minha mãe”, conta Camila.

Mas, infelizmente, o mais doloroso aconteceu: pouco menos de uma hora depois, a equipe voltou a chamar a família para comunicar que, após uma segunda parada cardio-respiratória, Angela veio à óbito.

O diagnóstico: infecção gravíssima do pulmão já estabelecida há dias, conforme apontavam os exames feitos ali e os anteriores realizados em Salto.

“Quero justiça e que outros filhos não sofram como estamos sofrendo agora”, diz Camila que, em entrevista ao jornalista Nelson Lisboa, revela que a vida perdeu o sentido depois de ouvir que sua mãe havia morrido.

E o terror aumentaria após ela estar com os exames feitos em Salto em mãos, que mostravam o agravamento do quadro nos dois dias que passou no hospital.

A filha relata:

“A minha mãe chegou no HAOC com pressão baixissíma e hipoglicêmica. O nível de plaquetas da minha mãe estava caindo desde segunda-feira. Os exames feitos no Hospital apontavam isso e que isso sugere haver alguma infecção no corpo.
No primeiro dia, minha mãe estava com 226 mil de plaquetas e no outro dia estava com apenas 115 mil. Na quarta, antes de morrer, ela estava com apenas 15 mil de plaquetas.
Porém, em Salto não viram isso; embora um exame de dengue que constou negativo havia sido feito”

Ela também relata, em meio às lágrimas e com a dor da perda que (talvez) pudesse ser evitada:

“O sangue da minha mãe ficou ácido, sem coagulação ou oxigênio. Minha mãe agonizou 2 dias até morrer porque não viram no começo que ela estava com infecção no pulmão”.

A filha e a mãe viviam juntas sozinhas. Uma era o esteio e a base da outra. A relação era muito mais que simples mãe e filha.

Mesmo passado quase um mês da morte da mãe, Camila diz que a vida segue no automático, que há um abismo em seu peito.

“Mas preciso ser forte. Tenho que lutar por justiça porque o hospital de Salto não poderia ter ignorado tantos problemas dela. Quero que o que foi feito seja avaliado e julgado dentro da lei para que outros erros não destruam outras vidas e famílias”, finaliza a filha em desconsolo.

 

SECRETARIA DA SAÚDE SE POSICIONA

A nossa reportagem questionou a Secretaria de Saúde de Salto.

Em nota, depois do relato que encaminhamos à ela, nos diz:

“A Secretaria de Saúde informa que abriu investigação junto ao Hospital para apurar o caso”.

 

Departamento de Direitos Humanos Municipal se pronuncia

 

Procuramos ouvir o Conselho Municipal do Idoso de Salto sobre o caso da dona Angela.
Porém, como resposta, recebemos um posicionamento do Departamento de Direitos Humanos da Secretaria de Ação Social:
“Sentimos muito pelo ocorrido! A recomendação é que a filha deve procurar a Ouvidoria da Secretaria da Saúde ou Ouvidoria dos hospitais pelos quais a paciente passou para apuração dos fatos”.

Reveja outro caso dramático que mostramos em primeira mão em nossa página, envolvendo outra idosa e o Hospital de Salto

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