O medo é um mecanismo de defesa natural do ser humano, que o ajudou muito a sobreviver em tempos remotos.
Porém, seus efeitos podem ser tão prejudiciais quanto os de uma doença. Segundo a psicóloga e hipnoterapeuta da Epopéia Desenvolvimento Humano, Sabrina Amaral, o mal-estar emocional causado nas pessoas devido aos impactos do Covid-19 pode deixar sequelas terríveis, que se estenderão por muito mais tempo que a pandemia.
A psicóloga explica que, para superar este momento é preciso treinar sua atitude mental. “Neurocientificamente falando, precisamos reduzir a hiperatividade do sistema límbico cerebral e das nossas emoções para ativar o córtex pré-frontal. Essa região nos permite agir e pensar de forma mais objetiva, racional e centrada”, completa a profissional.
Com base no artigo publicado pela revista científica The Lancet, que comparou dados da quarentena do surto de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), em 2003, Sabrina Amaral estima alguns dos efeitos psicológicos negativos da quarentena, que é uma das medidas empregadas na contenção da pandemia:
Um confinamento acima de 10 dias impacta a saúde mental
De acordo com a pesquisa das doutoras Samanta Brooks e Rebecca Webster, da King’s College of London, mencionada acima, a partir do 11º dia de isolamento a saúde mental começa a se deteriorar.
Sentimentos como ansiedade, estresse e nervosismo ficam mais evidentes.
O medo de uma infecção se torna irracional
Em situação de pandemia, a mente humana tende a desenvolver medos irracionais.
De nada adianta termos as informações confiáveis e sabermos exatamente os cuidados básicos de prevenção (lavar as mãos, manter distância das pessoas e evitar aglomerações).
Parece que a mente ‘ignora’ a racionalidade e, gradativamente, vai sucumbindo aos medos e, quanto mais nos rendemos a eles, mais irracionais eles ficam. Daí surgem pensamentos de que faltará comida, que os animais de estimação transmitem a doença e por aí vai.
Confinamento + tempo = frustração e irritabilidade
Nem precisaria de pesquisa ou doutorado para concluir que o isolamento nos traz tédio, irritabilidade e frustração. “A sensação de estar confinado dentro de casa, sem poder sair na rua, ver gente, ir para a academia nos impacta diretamente. Ser privado da nossa liberdade de ir e vir, de manter nosso estilo de vida e aquilo que é importante para nós desencadeia ainda mais pensamentos negativos e problemáticos”, destaca.
Delírios de escassez
É muito comum em epidemias termos a sensação iminente de que faltarão itens básicos para nossa subsistência. Basta uma pessoa ‘puxar a fila’ para o coletivo reproduzir o padrão de ações com base no pânico.
Um dos efeitos desses delírios é o comportamento de compras compulsivas, estocando centenas de rolos de papel higiênico ou vidros de álcool gel.
Este cenário de incerteza faz o cérebro focar atenção no que ele considera ser prioridade e aí não importa muito se você vai deixar faltar produtos no mercado ou medicamentos nas farmácias, a mente nos faz acreditar que alguns itens estarão indisponíveis e temos que estocá-los custe o que custar!
Síndrome de café com leite
Lembra quando você era criança e meio que te deixavam fora da brincadeira, dizendo que você era ‘café com leite’.
Pois bem, este é outro efeito psicológico das condições adversas do vírus: a desconfiança de que estão omitindo informações ou escondendo a verdade de você.
Esse sintoma é tão sério que desencadeia a crença de que as Fake News mais absurdas são verdadeiras!
É como se a mente humana desconfiasse de tudo e de todos a ponto de perder um pouco a noção de realidade. Exemplo disso são as pessoas dizerem que a China criou o vírus para lucrar com a venda das vacinas que só ela teria e produziria.
Agravamento das doenças emocionais e psicossomáticas
Aquelas pessoas que já manifestavam alguma fragilidade emocional costumam ter uma piora significativa. Aquela sua tia que sofre com depressão e ansiedade, aquele conhecido que tem TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e fobia, o seu chefe que tem gastrite nervosa, poderão sofrer muito neste contexto. Neste sentido, é muito importante que eles se sintam amparados e apoiados pelos amigos, família e até mesmo por terapeutas especializados.
O pior inimigo nessas horas é o pensamento negativo, pois ele nos faz maximizar exageradamente as coisas, ou como dizemos no ditado popular ‘fazer tsunami em tampinha de garrafa’.
As pessoas ficam antecipando os piores cenários possíveis, se preocupando e sofrendo por antecipação, imaginando que a economia vai quebrar, que ela vai se contaminar, que alguém da família vai morrer etc.
O que fazer?
Enquanto o cenário não apresenta melhoras, há algumas ações que as pessoas podem realizar para que a mente esteja, na medida do possível, em equilíbrio.
Abaixo, a psicóloga Sabrina Amaral preparou uma ‘academia emocional’ com dicas do que fazer para frear esses impactos psicológicos.
Transforme seu medo em algo útil
Estamos vivendo um momento super delicado e sentir medo é lógico e esperado. No entanto, esse medo deve ser racional. Por exemplo: Tem medo de se infectar no mercado. O que você deve fazer então? Seguir as medidas de prevenção para este ambiente é uma opção. Outro exemplo: Tem medo de que seus avós adoeçam? O que você efetivamente pode fazer? Protegê-los.
Dica: Transforme o medo em algo mais útil, use-o para estar atento e tomar as medidas necessárias
Tenha uma rede de apoio
Atenção: rede de apoio não é uma rede de reclamação, vitimismo e dramatização, mas sim um espaço seguro, no qual você pode compartilhar os seus sentimentos, buscar formas de trocar experiências que vão te auxiliar a encontrar o equilíbrio emocional.
Dica: Crie espaços para gerenciar o medo, nutrir esperança, energia e conforto emocional.
Detox de informação
O Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros – ou seja, 9,3% da população – convivem com o transtorno, segundo documento divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A enxurrada de informação que bombardeia grupos de WhatsApp, rádio, TV e internet só piora a situação. Desconectar-se um pouco não é ignorar o que está acontecendo, mas trabalhar a autopreservação emocional.
Dica: Escolha um horário do dia para se informar e faça isso em fontes seguras como a Organização Mundial de Saúde (OMS) ou veículos de comunicação confiáveis.
Cautela e pé no chão
Seja realista! Sabemos que não se trata de uma ‘gripezinha’, mas também não é o caso de soar as trombetas do apocalipse. Não devemos maximizar o perigo ao ponto de sofrer de insônia e transformar o Coronavírus en nosso único pensamento. É claro, há um risco real e devemos aceitá-lo.
Trata-se, basicamente, de nos adaptarmos a esta realidade, sendo responsáveis por nós mesmos e pelos demais. Se você se deixar levar pelo pânico, não vai ajudar muito.
Contudo, se você subestimar a situação, vai se colocar em risco e fazer o mesmo com os demais. Portanto, devemos agir com equilíbrio e bom senso.
Dica: Não temos o controle do que acontece, mas podemos controlar nossas reações e comportamentos.
Afinal, como você gostaria de ser lembrado quando tudo isso passar? Como alguém que ‘panicou’ e saiu por aí bombardeando o mundo de Fake News ou como alguém que manteve o equilíbrio a ajudou outras pessoas a superarem as adversidades?
Meu mundo caiu
A mudança de nossos hábitos e costumes só faz aumentar as incertezas trazidas pelo Corona vírus, afinal, estamos diante de algo que nunca havíamos enfrentado antes: não temos vacina, não sabemos quanto tempo vai durar a crise e o impacto econômico que isso vai trazer nas nossas vidas. Que fazer agora?
Dica: Para se acalmar é importante que você estabeleça uma rotina de atividades e horários. Pode parecer bobagem, mas o seu cérebro vai sentir mais segurança se você tiver tarefas definidas. Portanto, tenha hora para acordar, trabalhar, almoçar, fazer atividades físicas, estar com a família, ter momentos de lazer e espiritualidade. Tudo que ajude você a focar nas tarefas rotineiras vai te acalmar.
A vida continua
Se você é funcionário de alguma empresa, vai ter que manter sua produtividade em home office. Se você é empreendedor, vai ter que buscar alternativas para driblar essa crise. Não pare sua vida por conta do vírus, trace objetivos, mantenha contato com as pessoas (virtualmente) e viva o presente.
Dica: Os objetivos devem ser de curto, médio e longo prazo. Todos os dias, ao se levantar, é recomendável definir uma meta (ler um livro, fazer algo novo com o parceiro ou com os filhos, limpar a casa, escrever, pintar etc.). Os objetivos de longo prazo devem nos lembrar que os propósitos de vida continuam presentes, guiando-nos e oferecendo esperança.
Agora é só praticar sem moderação todos os exercícios recomendados pela psicóloga e ser feliz!
Sabrina Amaral
A psicóloga Sabrina Amaral acredita na transformação do ser humano e, após uma vivência de duas décadas na gestão de processos de RH, fundou a Epopéia Desenvolvimento Humano que se propõe a levar à tona o que o cliente tem de melhor com o intuito de ajudá-lo no processo de se tornar pleno, inteiro e feliz.
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