
Ontem recebi uma notícia* da minha irmã, como provocação para que eu escrevesse sobre o tema.
Conversávamos pelo WhatsApp, e a notícia, que circulou nas mídias, polemiza ainda mais uma questão já bem incômoda.
Uma estudante norte-americana pediu o reembolso da mensalidade universitária ao descobrir que seu professor usava Inteligência Artificial para preparar as aulas.
Alegou sentir-se enganada. Citou erros típicos de máquina, imagens distorcidas e, veja só, a citação de “ChatGPT” na bibliografia (será que já temos essa possibilidade na ABNT?).
O professor admitiu. A universidade rejeitou o pedido, mas o desconforto ficou.
Coincidentemente, hoje, ainda processando a provocação da minha irmã, entrei nas redes e fui surpreendida por uma avalanche de postagens pelo Dia do Pedagogo.
Bonitas, sensíveis, cheias de reconhecimento… mas todas, ou quase todas, com a mesma estrutura, as mesmas palavras, os mesmos adjetivos. Pareciam clones.
Não demorou para perceber que boa parte delas era fruto da IA.
Sim, talvez até bem-intencionadas, mas faltava algo: a voz de quem vive, sente e pensa com o corpo inteiro esse ofício de ser pedagogo.
Por isso, e com voz e coração de Pedagoga, resolvi trazer o assunto à pauta.
Mas antes, preciso dizer que demorei a usar a IA. Estava resistente — aliás, penso que, na fase da vida em que me encontro, tenho esse direito: não aderir a tudo de pronto, no impulso, na moda… Resisti até onde pude.
Porém, hoje a tenho como uma ferramenta, assim como aprendi a usar o rádio, a televisão, o telefone, o computador, a internet…
De fato, venho aprendendo a usá-la com cuidado e ética. E pensando muito a respeito.
Venho pensando que é sempre assim: toda nova tecnologia nos põe diante da mesma pergunta antiga — como usar? Até onde ir?
Quando a máquina escreve por nós, o que ainda é nosso? Quando a inteligência é artificial, onde fica a autoria, a intenção, o traço humano que vacila, mas também vibra? Seremos substituídos?
Não sou contra a tecnologia.
Ao contrário — aliás, já fui muito mais tecnológica um dia.
Hoje tenho um pouco de preguiça; e para algumas, simplesmente digo não. Mas recuso o uso irresponsável, que impede o aprendizado, que oferece atalhos.
Especialmente na educação, onde a presença, a escuta, a interação e a singularidade ainda são o que nos salvam do automatismo. Há diferença entre usar uma ferramenta e delegar a ela o que é intransferivelmente nosso. E o aprendizado é, fundamentalmente, relacional.
Por isso, neste 20 de maio, data reconhecida como o Dia do Pedagogo, questiono: que vozes estamos reproduzindo? Que silêncios estamos deixando passar? No fundo, a pergunta é simples, mas necessária: quem está falando? E o que ainda somos capazes de dizer com nossa própria voz?
(*) Veja mais em https://www.tabnews.com.br/NewsletterOficial/estudante-universitaria-exige-reembolso-apos-professor-utilizar-ia
(acesso em 20 de maio de 2025)
Agora reveja um outro artigo que ela gentilmente nos brinda: Vale a leitura