Amante da literatura, o prefeito de Salto, Laerte Sonsin (PL), deve ter se inspirado na romancista americana Eleanor Porter, que se tornou conhecida no Planeta inteiro, em 1913, ao escrever o clássico “Pollyanna”, no qual a personagem principal vê o lado bom de tudo e prega o otimismo como regra.
Explica-se: em mais um ano atípico, assolado pelos estragos incalculáveis de uma pandemia, e sendo este o seu primeiro ano à frente do governo, sobretudo por ser ele um governo de ruptura após três mandatos do seu antecessor, o prefeito repetiu a avaliação positiva dos cem dias e ainda a ampliou.
Para Laerte, seu governo merece nota 9,5 em uma escala de zero a dez, o que significa meio ponto acima da nota a que se atribuiu com três meses à frente da Prefeitura, em que pese a cidade hoje não ter água, o hospital estar na terceira gestora contratada emergencialmente e faltar emprego.
No livro de Eleanor Porter, Pollyanna vai morar com uma tia rica e severa após a morte do pai. Aos 11 anos, a mudança é um choque para a menina. Mas ela usa em sua defesa o Jogo do Contente, que aprendeu com o pai. O jogo consiste em procurar algo de bom e positivo em tudo, até nas desgraças.
Em um determinado momento do livro, a menina conta que pediu bonecas de presente e, em vez disso, recebeu muletas. Então ela avalia que devia ficar feliz com o engano, afinal ela não precisava de muletas. Não deixa de ser uma forma de ver o que acontece, mas, é preciso dizer, não é real.
Em geral, os políticos em cargos executivos tendem a ser mais otimistas com seus próprios governos e a não ver o que a oposição ou quem não é seu seguidor aponta de ruim e desta forma conseguem manter o seu moral e o de suas equipes elevado, afastando derrotas em discussões.
Independentemente da inspiração ou não em Pollyanna de 1913 e na tendência dos dias atuais de os políticos ignorarem o negativo dos fatos, há que se pensar que cenários de mundos ideais são contos de fada e não se realizam na prática na maioria das vezes, com raríssimas exceções.
Aproximar a realidade das avaliações ajuda a identificar erros, a corrigir rotas e a salvar projetos. Ninguém consegue enganar o tempo todo nem convencer do contrário o que se vê na prática e no dia a dia. Tudo é uma questão de tempo e de informação. Quem conhece a realidade não se engana.
A missão dos jornalistas que integram o Consórcio de Imprensa de Salto é levar a informação completa, de qualidade e sem contaminação política para que o leitor possa formar a sua opinião e consiga, ele sim, dar a nota adequada ao prefeito e à sua equipe, que, antes de tudo, são servidores do povo.
Ao longo desta semana foi o que fizeram o Blog do Nelson Lisboa, o Portal Terra Tavares, o Jornal Taperá e o Jornal PrimeiraFeira, que integram o Consórcio, com as informações colhidas junto ao prefeito e seu vice na entrevista concedida pelos governantes na segunda (13).
Que o leitor, agora, amplamente informado, sem o viés das paixões políticas nem as rivalidades entre grupos, possa fazer o seu juízo de valor e dizer se a realidade vivida por Salto atualmente justifica a nota 9,5, atribuída pelo prefeito a si mesmo e à sua equipe, ou se a pontuação é realmente outra.