Tragédia familiar no Jardim Marília, em Salto: a culpa é de quem?

blog do nelson lisboa Salto
Quem silencia diante de agressões acaba sendo conivente com o feminicídio (reprodução)

Na madrugada do domingo uma tragédia familiar atingiu uma família no Jardim Marília: o homem matou a sua companheira de 37 anos à facadas e ainda esfaqueou a filha, de 20 anos, no conjunto habitacional do bairro.
Enquanto as vítimas eram socorridas, o homem fugiu. No hospital, a mulher veio à óbito, deixando a todos chocados, principalmente os que conheciam a família, evangélica e respeitada pelos vizinhos e conhecidos.
Na manhã do domingo, a polícia acabou prendendo o acusado dos crimes. Vizinhos disseram que ele se entregou e foi preso.

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Crime abalou moradores do conjunto e surpreendeu a todos

NOSSA OPINIÃO

Crimes assim podem ser prevenidos? De quem é a culpa?
A culpa principal é do autor do crime covarde, horrendo e inaceitável. Homem nenhum tem direito de agredir ou matar sua mulher. Quem o faz apenas confirma sua covardia e estupidez. E deve pagar isso, perante a Lei.
Crimes assim provam o quanto toda a sociedade fracassa na formação de mulheres que não devem se calar diante de uma agressão verbal ou física.
Além disso, é preciso frisar: a dependência financeira, a vontade de manter a família unida, não podem ser condenação à morte. Quem agredi uma vez, vai agredir mais e pode matar.
Sendo assim, foi agredida? Peça ajuda! Denuncie. Ligue no Disque 180, gratuito, de qualquer aparelho e denuncie.
Ligue também 181, o Disque Denúncia e peça ajuda. Viu marido agredindo a mulher? Denuncie anonimamente.
Ou chame a força policial: 190 (PM) ou 156 (GCM) de Salto.
A cada mulher morta a sociedade fracassa por não ter conseguido dar ao homem uma educação humana e respeitadora. Homem educado para ser agressivo, que não suporta ser contraposto e nem respeita ninguém (nem a mulher e a família) precisa ser orientado, reeducado e monitorado. Mulher é companhia, não posse.
O luto de cada mulher morta não pode ser apenas da família. Tem que ser de todos nós.
Esses crimes provam o fracasso da família como um todo: os papeis já estão confusos, o respeito já se esgotou, o diálogo não mais existe, o amor e respeito desapareceram.
E tudo começa com um primeiro tapa, com um primeiro grito ou ofensa, passa pela dependência financeira e culmina com crimes assim.
É terrível imaginar o impacto destes crimes, cometidos, quase sempre, na frente de filhos. Como ficará o psicológico e a vida de uma criança que viu seu pai matar a mãe na sua frente? É algo que a criança levará para o resto da vida e, mesmo com todo apoio e amor possível, essas imagens não se dissiparão jamais da memória. O que era pai vira monstro.
Também entendemos que fracassam as religiões. Espiritualmente, triste do líder religioso que “passa pano” em irmãos agressivos, que pedem às frequentadoras de sua religião que “aceitem” e “orem” para o irmão mudar. Quem é líder, sabe de agressões e não apoia a vítima, é corresponsável.
A Justiça precisa ser rigorosa. Quantas mulheres em Salto têm medidas protetivas contra seus ex-companheiros? Que garantia damos à essas mulheres ameaçadas? Papel não segura homem que quer matar.
Líderes religiosos precisam rever suas formas de agir, orientar e agir com responsabilidade. Deus não vai impedir um crime em andamento. É preciso apoiar a vítima, acionar os órgãos públicos e evitar crimes assim.
Vizinhos devem denunciar – anonimamente – maridos que agridem suas esposas. Esse ditado de que em “briga de marido e mulher não se mete a colher” tem que acabar. Viu uma agressão, denuncie anonimamente.
O município precisa ter estrutura para apoiar as mulheres agredidas ou ameaçadas na prática. Apenas a teoria do serviço social ou da Justiça não resolvem. Inegavelmente não resolvem.
Você mulher, agredida, ameaçada, chantageada, não se cale. Peça ajuda. Quem agride uma vez, vai agredir outras. Reaja.
(Nelson Lisboa)

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Temos mostrado a violência contra a mulher em Salto. Veja uma reportagem clicando aqui.