Artigo: A Apeoesp sempre em defesa da vida

Blog do nelson Lisboa
Professora Rita é da coordenação da Apeoesp de Salto e Região

Confira artigo da Apeoesp de Salto sobre a decisão liminar que suspende aulas no Estado.

“Lutamos em defesa da VIDA e da vida de todos e todas. Lutamos também, para que as escolas sejam parte importantíssima neste contexto difícil que estamos vivendo servindo sempre como espaços de vida, de cuidado, de solidariedade e não de contaminação e mortes.

Estamos à deriva, vivendo uma enorme crise sanitária e social reforçada pelas atitudes irresponsáveis do (des) governo federal cuja gestão se dá na criação do caos e nos sufoca dia após dia.  A pandemia da COVID-19, que já causou mais de 215 mil mortes em todo o Brasil, aprofundou a pobreza e a violência, atingindo a todos nós, mas principalmente aos grupos com maior vulnerabilidade, como mulheres, crianças, negros, indígenas, pobres.

Apesar do otimismo com a descoberta científica da vacina, temos um longo caminho pela frente. As informações que existem até o momento mostram que precisaremos esperar muito tempo até que todos os mais de 210 milhões de brasileiros e brasileiras sejam vacinados. Ainda não há vacina para bebês e crianças e nos planos governamentais, educadores não constam como prioridade para serem imunizados. Se não há garantia de vacinação para o público escolar, por que passamos a naturalizar o retorno às atividades presenciais, desconsiderando os riscos e abrindo mão do isolamento social tão importante para conter a pandemia até agora?

O argumento de que se deveria abrir as escolas porque bares, restaurantes, shoppings, praias e outros espaços estão lotados, resulta de análises em que predominam interesses econômicos e não de manutenção e proteção de vidas. É o triunfo da política de morte. Deveríamos, como em outros países, estar discutindo como fechar esses espaços, garantir o necessário isolamento social e as condições de existência aos trabalhadores e às trabalhadoras, num grande esforço coletivo e solidário para salvar vidas, diminuir o contágio e então, repensar as novas bases de reabertura. É preciso reafirmar que a economia só faz sentido para quem está vivo e a morte não pode fazer parte dos negócios.

Com o papel central que a escola ocupa na vida de todas as famílias na contemporaneidade, era de se esperar que todos – famílias, bebês, crianças, adolescentes, jovens, professores e professoras – fossem fortemente impactados pela suspensão do ensino presencial. Além do desejo compreensível de voltarmos a tal normalidade, é fato que a imensa maioria da população não dispõe dos meios adequados (equipamentos, espaço doméstico etc.) para usufruir do ensino remoto e cumprir o isolamento, o que amplia ainda mais a desigualdade de acesso ao conhecimento, sem contar que não é essa a modalidade de ensino que defendemos. No entanto, a solução para esse problema não pode se dar renunciando ao que conseguimos conquistar até aqui, a preservação de milhares de vidas. Conhecimentos se dão a todo instante e em todo lugar. Conteúdos se recuperam, vidas perdidas, não! O que nos tem levado a fazer este tipo de escolha?

Precisamos enfrentar esse problema de frente e discutir sobre o que significa o retorno de estudantes, desde bebês às creches e pré-escolas. É importante pensar no desdobramento desse ato, aparentemente simples, e suas implicações para o aumento da pandemia e das mortes. Também importa pensar sobre os verdadeiros motivos, nem sempre revelados, dessa aparente “boa intenção” de retorno. Quem está promovendo a vida ao nosso redor?

Um retorno presencial as escolas, significa liberar mais de um milhão de pessoas que aparentemente estão se protegendo voltar a circular pelas ruas, pelas escolas, utilizando transportes públicos e possivelmente contaminando a si, e aos seus familiares no retorno para casa.  Isso sem problematizar a precarização dos espaços escolares públicos, em especial os estaduais que não dispõe de funcionários suficientes para cuidar desses alunos no interior das escolas.

Sabemos das consequências da pandemia como aumento de distúrbios psicológicos, alimentares, abusos, violência doméstica e o agravamento das desigualdades sociais e o quanto as escolas contribuem enquanto parte da rede de proteção social no enfrentamento dessas mazelas. Porém, a Unidade Educacional não pode estar sozinha nesse enfrentamento. É preciso que exista um conjunto de políticas públicas que garantam a segurança, a renda e a dignidade de todos, bem como alternativas de bem estar aos bebês, crianças e jovens. Não podemos arriscar as vidas de quem quer que seja por conta da ineficiência das políticas de proteção social.

As crianças e os adolescentes, sem que ninguém saiba ou perceba, podem ser portadores do vírus, fazendo-o circular, aumentando o número de contaminados e mortos. Inclusive, boa parte delas mora com familiares com mais de 60 anos.

Além disso, crianças pequenas e adolescentes tendem a ter mais dificuldades com a adoção dos protocolos como manutenção do distanciamento físico, utilização de máscara, não compartilhamento de brinquedos e materiais.

Vale reforçar que a introdução e consolidação da flexibilização na fase amarela do plano São Paulo, trouxe um pico de contaminações. A abertura de salões de beleza, bares, restaurantes e similares elevou a circulação de pessoas. Os protocolos de segurança mesmo bastante divulgados não são suficientes para conter a covid-19 e muito mais  mortes se acarretam. O isolamento social, seguido de um programa de proteção social e econômica é imprescindível. Um dos espaços de maior concentração e circulação de pessoas são as escolas e, inevitavelmente geram interação, contato e riscos à saúde de todos, não apenas dos estudantes.

Quando tratamos de algo global como uma pandemia, é natural que nos atentemos aos números através de porcentagens, porém não podemos esquecer das pessoas e suas vidas que encontram-se por trás dos números. Segundo o site do G1, de março até a primeira semana de dezembro, foram confirmados na capital 5.230 casos de Covid-19 em crianças de até 4 anos, 5.139 casos de crianças entre 5 e 9 anos e 6.185 de 10 a 14 anos. Desses grupos, 763 crianças tiveram que ser internadas. A maior parte delas – 490 – com idades entre 0 e 4 anos. Ao todo, 20 crianças morreram por Covid-19 na capital, 12 delas também desse grupo mais novo, com até 4 anos. Todas e cada uma das mortes nos importam.

Por fim, diante do exposto e da urgente necessidade de defender as vidas de todas as pessoas, solicitamos aos prefeitos, vereadores, secretários municipais de Saúde e de Educação de todos os municípios do Estado de São Paulo a manutenção do adiamento da retomada das atividades presenciais nas Unidades Escolares enquanto estivermos constatando aumento da pandemia, ausência de vacinação em massa e principalmente a falta de vacinas para os trabalhadores e trabalhadoras da educação bem como para seus alunos.

Acreditamos que enquanto não tivermos a intensificação na vacinação para toda população, enquanto a comunidade escolar não for prioridade para a saúde pública, qualquer movimentação presencial nas escolas implica em mais mortes, mais calamidade pública como o que vem acontecendo com o Estado do Amazonas”.

NADA É MAIS IMPORTANTE DO QUE A VIDA DAS PESSOAS.

(Coordenação Regional da APEOESP Subsede Salto)